As cáries dentárias são, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS),  “a doença não transmissível mais comum em todo o mundo”. Esta condição que “afeta a saúde geral e causa frequentemente dor e infeção” é um problema comum, mas sobre o qual ainda persistem alguns mitos.

Será que todas as cáries causam dor? As cáries nos dentes de leite não precisam de ser tratadas? São contagiosas? No Dia Mundial da Saúde Oral, a dentista Ana Raquel Vieira desmonta 7 mitos sobre as cáries dentárias.

Mito 1: As cáries são sempre um problema de higiene

Ana Raquel Vieira começa por explicar que “a cárie é uma doença multifatorial”. Logo, não depende exclusivamente da higiene oral. 

Segundo a dentista, o surgimento de cárie “depende dos ácidos produzidos pelas bactérias, do hospedeiro e do tempo de permanência dos resíduos nos dentes”.

No que diz respeito ao hospedeiro, “a genética pode ter um efeito no aparecimento de cáries”, no sentido em que, “se o esmalte tiver problemas de constituição e os dentes estiverem desalinhados (mal posicionados), a probabilidade de aparecimento de cárie aumenta”.

Ainda assim, Ana Raquel Vieira explica que as boas práticas de higiene oral têm um grande peso na prevenção de cáries. É recomendado “lavar os dentes pelo menos 2 vezes por dia com uma pasta fluoretada adequada à idade”, “usar fio dentário”, “lavar a língua” e “visitar um médico dentista a cada 6 meses”.

Mito 2: Se não dói, não há cárie

A ideia de que as cáries provocam sempre dor já é antiga. No entanto, não passa de um mito. Ana Raquel Vieira adianta que “nem sempre a cárie é dolorosa”.

Por um lado, podemos “ter uma cárie ativa com manifestação de ‘moinha’ ao frio e ao doce e, por vezes, com dores espontâneas fortes, sem estímulo aparente”.

Contudo, também é possível um doente “ter uma cárie inativa, estacionária, geralmente de cor preta ou castanha escura e de consistência dura”. Esta aparência é “uma resposta de defesa do próprio dente a agressores”, aponta. 

Por norma, estas cáries “não doem”, podendo “ser tratadas ou, mediante a localização e o tipo de paciente, controladas periodicamente”.

Mito 3: As cáries são contagiosas

“Embora as bactérias sejam transmitidas pela saliva”, isso não quer dizer que uma pessoa com cáries vá passar a doença a outra através do contacto direto.

A desntista lembra que a “cárie é uma doença multifatorial”. Por isso, “são necessários vários fatores para se formar uma lesão de cárie, nomeadamente os ácidos produzidos pelas bactérias e o tempo de permanência dos resíduos na boca”, explica.

Mito 4: Uma vez tratada, já não surge outra cárie no mesmo sítio

Esta ideia é um mito. Segundo Ana Raquel Vieira, uma cárie “pode aparecer no mesmo sítio, se não houver cuidado”, isto é, se a pessoa “não fizer a higiene oral corretamente e se não for a consultas de rotina regulares”. 

Isto porque, sustenta a especialista, “os tratamentos com compósitos (as ‘massinhas’)”, colocadas nas “restaurações, podem infiltrar e, na zona em que existe dente envolvente, pode surgir novamente uma cárie”, esclarece.

Mito 5: As cáries nos dentes de leite não precisam de ser tratadas

Ana Raquel Vieira defende que “os dentes devem ser sempre tratados”, sejam eles de leite ou definitivos. 

Aliás, num texto informativo dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla inglesa), refere-se que “as cáries não tratadas podem provocar abcessos (uma infeção grave) sob as gengivas, que podem alastrar a outras partes do corpo e ter resultados graves”.

Quando as cáries nos dentes de leite são tratadas, “além de se evitar situações dolorosas, prevenimos problemas nos dentes definitivos, como a falta de espaço para a dentição permanente”, explica Ana Raquel Vieira.

No geral, “os dentes de leite são importantes para a mastigação, fonação e manutenção de espaço dos dentes definitivos” e, “se pusermos isto em causa, comprometemos a dentição futura”, salienta a dentista.

Mito 6: As cáries podem ser tratadas com métodos caseiros

Nas redes sociais partilham-se, com frequência, receitas caseiras que prometem acabar com as cáries. As mezinhas mais comuns incluem ingredientes como bicarbonato de sódio, carvão ativado e óleo de coco. Também há quem sugira colocar uma aspirina no dente doente para aliviar a dor.

Contudo, na perspetiva de Ana Raquel Vieira, deve-se “evitar métodos caseiros” para tratar as cáries, porque “a maioria não tem efeitos comprovados cientificamente e pode causar problemas graves na saúde oral”. Por isso, qualquer possível benefício não compensa o risco.

Assim, a especialista recomenda que se “visite sempre o médico dentista para aconselhamento, consoante as dúvidas existentes”. 

Mito 7: Mascar pastilha, por si só, previne cáries

Não é bem assim. Em primeiro lugar, a dentista considera importante referir que nem todas as pastilhas têm um efeito positivo na prevenção de cáries. 

“As pastilhas que auxiliam a prevenção da cárie dentária não podem ter açúcar e devem ter xilitol”, frisa.

Este benefício advém do facto de estas pastilhas “aumentarem a produção de saliva, estabilizarem os iões de cálcio e fosfato da saliva” contribuindo, assim, “para a remineralização dos dentes”.

Além disso, estas pastilhas “ajudam a controlar o pH da placa e a capacidade tamponante da saliva, após o consumo de açúcar (sacarose)”, refere.

Por último, ao mascar-se estas pastilhas, como “as bactérias precisam de gastar muita energia para absorver o xilitol”, mas “não conseguem metabolizá-lo, acabam por morrer intoxicadas”. 

Apesar disso, as pastilhas sem açúcar, por si só, não previnem cáries, “nem substituem a escovagem”. 

Tal como se refere num texto da American Dental Association, as pastilhas sem açúcar podem contribuir para reduzir o risco de cárie, mas só em conjunto com “uma rotina regular de cuidados orais de escovagem, duas vezes por dia, com pasta dentífrica fluoretada e limpeza diária entre os dentes”.